sábado, 8 de fevereiro de 2014

A VOZ DA CRIANÇA

"A voz da criança, menino ou menina até à puberdade não manifesta diferença. A tessitura da voz cantada é igual em ambos os sexos. Só depois da mudança da voz, na altura da puberdade, o timbre infantil e as características pueris desaparecem para dar lugar à voz do adulto. A mudança da voz dá-se por volta dos doze anos nas meninas e por volta dos catorze anos nos meninos. Não há, porém, um limite rígido. Trata-se de um fenômeno fisiológico em que há um crescimento da laringe e um alargamento das cordas vocais. De acordo com Bloch (2003), no fim da puberdade, as cordas vocais masculinas revelam um aumento de um centímetro de comprimento, enquanto as femininas só crescem cerca de três a quatro milímetros.

Na fase da mudança da voz, a tessitura também muda. Entre os especialistas estudiosos da voz há os que defendem a suspensão da atividade vocal dos meninos durante esse período (Canuyt, 1955 e Nitsche, 1967). A maioria, porém, não concorda com tal suspensão, aconselhando, contudo, prudência e uma orientação adequada (Schoch,1964; Swanson, Cooper e Mackenzie,1979; Hoffer, 1964; Ream, 1957), todos os pedagogos da música do século xx que deram primazia à voz: Maurice Chevais (1880-1921) Zoltan Kodály (1882-1967), Justine Ward (1879-1975), Edgar Willems (1890-1978), Maurice Martenot (1898-1980) e investigadores contemporâneos, nomeadamente, Pedersen, 1997; Cooksey e Welch, 1998; White, 2000.
Ward (1962) inclui, por exemplo, no seu método de ensino da música, uma série de vocalizes especiais para os rapazes, em tessituras adequadas aos mesmos. 

A questão da mudança da voz, que é um processo gradual, deve ser encarada seriamente pelos pais e professores. Se a criança já arrasta consigo, desde a infância, perturbações da função vocal, estas agravam-se durante a puberdade. Daí que, a opinião quer de pedagogos da música quer de especialistas da voz, mesmo aqueles que desaconselham temporariamente o uso da voz cantada durante a mudança da voz, é unânime em considerar decisivo para a saúde vocal futura da criança que esta aprenda a utilizar corretamente a sua voz antes da puberdade e o mais cedo possível. Quando assim acontece, a classificação da voz adulta torna-se mais fácil e natural. De acordo com Gordon (2000), a aquisição da voz cantada deve começar na primeira infância.

Considera ainda o mesmo psicólogo que, excetuando casos patológicos, todas as crianças podem cantar e defende que é entre os nove e os doze meses que se deve começar a guiar a sua voz cantada, incitando a criança a responder aos estímulos musicais, propondo-lhe modelos corretos de voz cantada.
O cantor e pedagogo francês Jean Planel (1948) defende que a qualidade vocal só se pode obter de forma perfeita através de uma cultura vocal antes da puberdade. Esta perspectiva é defendida por outros pedagogos contemporâneos, nomeadamente Ott e Ott (1981); Bustarret (1985); Miller e Gouellou (1995); Castarède (1998); Horstmann (1999).
O investigador inglês Graham Welch (2004), ao constatar a escassez de estudos sobre a voz da criança e do adolescente, propôs um modelo de investigação científica da voz ao longo da vida, abrangendo todas as faixas etárias.

A voz da criança deve ser, desde o berço, objeto dos maiores cuidados e atenção no seio da família. Os pais são os primeiros mestres da criança. Na Creche, no Jardim de Infância e na Escola, o trabalho vocal, pedagogicamente correto, deve ser um imperativo para que todas que as crianças possam desenvolver, harmoniosamente, a sua aptidão musical. A educação musical da criança ficará sempre incompleta se não tiver como primeira prioridade a educação da voz."

Extraído de:
A Educação Vocal da Criança
IDALETE GIGA idaletegiga@clix.pt

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